mingau de maizena, o documentário
fiquei conjeturando a respeito
de um documentário sobre mim
como seria feito?
haveria jeito de construí-lo?
não me acho um sujeito
inexpugnável
intratável também não
mas não facilitaria certamente
as descobertas de alguns trechos
do que possa ser atribuído
a mim, assim como alguns
apetrechos de que não consigo
livrar-me: consolar-me
é uma prática que me é
indissolúvel, tal como café,
que prefiro com leite;
mingau de maizena,
comer pelas beiradas;
mulheres iradas,
só mesmo na cama
será que o cineasta
se contentaria apenas
com o meu perfil?
teto destelhado
sobrou quase nada de pelos
seria o cineasta capaz de apelos
no sentido de revelar
algumas de minhas
idiossincrasias?
como nunca me refugiar
na multidão,
comer pão dormido
ou ter feito amor com minha tia
ainda com sete anos?
no fim, tenho a impressão
de que o filme ficaria legal
tal como mingau de maizena
afinal, estamos na era digital
e não usamos bom-brill na antena
pra melhorar a recepção
Rio, 15/12/2008