DAS ETERNAS FILAS
Há fila pra entrar na escola,
fila pra cinema, fila pra servir comida,
fila pra tomar vacina,
há filas pra isto e aquilo,
é fila pra tudo,
pra alguns até pra vir ao mundo.
Há filas no trânsito,
pra espera de emprêgo,
e até pra ficar doente
e há as filas genéricas,
são as de pretendentes.
As filas nos acompanham desde sempre.
Veja que já faz um tempo
que esperei um-atrás-do-outro
pra flagrar na minha velha Kodak
um instantâneo do rei momo.
A coisa nasceu com o mundo, pois,
foi Adão-e-Eva quem inventou a fila-de-dois.
É como ouvi ontem de um ambulante:
"só não há fila na morte",
nos apresentamos e não há espera,
somos atendidos no mesmo instante.
Por outro lado, espera-se uma genial
e verdadeira fila do outro mundo
na hora do juizo final.
"Essa fila não anda" - é fila de banco.
"D'onde apareceu tanta gente" - é fila de promoção.
"Olha lá, tão furando" - é fila de cinema.
"Não empurra" - é fila de onibus.
Nas documentadas, só com senha na mão.
As filas vitais cobrem os pontos cardiais:
de abonados, facilmente encontradas
nas redondezas das câmaras;
dos sem dinheiro, na porta dos agiotas;
dos sem saúde, na soleira dos planos
e dos sem dinheiro e sem saúde
é a interminável fila do SUS.
Até eu, sou uma espécie de fila,
com todos estes anos, na soma,
já enfileirei uma penca.