Com Métrica e Com Rima

Eu vivia muito bem
antes de aprender a fazer soneto;
usava uma linguagem coloquial,
passeava pelos guetos
e tinha a paz de um poeta marginal.
Fechava os olhos e vestia qualquer roupa,
andava a pé, sem preocupação;
os cabelos, eu secava ao vento
encarava com prazer uma emoção.
Jamais me preocupava,
o futuro dos meus versos,
tão imersos eles eram na visão
ou na impressão que me causava qualquer cena.
Minha vida era uma vida de cinema,
em tomadas externas;
o contato se fazia bem direto:
era sem veto e sem censura a minha criação.
Não tinha nem razão e nem por quê
deixar de dizer: -  Amo você...

Mas o desejo me venceu, foi bem mais forte
e não importa mais saber qual o motivo.
Foram semanas e semanas de oficina,
em que o esquema sucessivo, a minha sina era
nem bem termina uma, outra começa...
O quanto errei... E erro ainda, e erro à beça,
mas aos pouquinhos aprendi a nobre arte,
que já faz parte de meu modo de escrever;
e que eu revele, não faz mal, pois é verdade,
consigo usá-la como uma segunda pele...

Porém confesso perdi toda a liberdade;
até a cidade já não vou sem me arrumar.
No celular, para um torpedo é um fonema,
o que eu escolho com cuidado a ralentar.
Não abrevio, não deturpo o linguajar
e progressiva, foi a arte em meus cabelos;
dos meus instintos, os apelos ignoro.
Decoro rimas, regras, som e consonância;
tenho uma ânsia do escrever bem ritmado
e do teclado quase tiro a sinfonia,
da poesia que se ajusta a uma forma.
Sujeita à norma, sou poeta ajuizada,
nessa armadilha já caí, fui enredada.
E quando o verso não dá certo,
como me transtorna esse dilema!
Tornei-me escrava do sistema.


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