PESCARIA

Levei o meu cumpadre prá pescar sem treinamento
qual fora minha surpresa ao perceber que o barranco
não era mais de terra nem na frente nem nos flancos
fizeram um palanque de madeira e cimento

coitado do cumpadre se enrolou todo com a vara
depois de meia hora ainda não tinha isca n'água
nem soube para que servia o tal do passaguá
e os peixes no açude só rindo da nossa cara

depois de mais um tempo, já com a tralha arrumada
cumpadre, como um tonto só ficava pondo isca
tentava até fiscar o bicho a cada beliscada
e pôs-se a reclamar:  "ligeiros são como faísca".

foi tanto que tentou que não achou mais haver graça
pensou nos mantimentos que havíamos trazido
foi logo pra cozinha pra pescar uma cachaça
e preparar o almoço com assado e com cozido

no meio de uma prosa muito boa e divertida
ouvindo uma moda de viola e uma catira
comemos um petisco e tomamos da mardita
enquanto preparava um arroz com cambuquira

depois de satisfeitos eu voltei lá pro açude
cumpadre foi dormir pra fazer jus à comilança
usei tudo que é isca, me esforçei, fiz o que pude
peguei uma piaba e vibrei que nem criança

caindo a tardinha o cumpadre então chegou
foi lá para o cantinho junto ao pé de mexerica
pegou o sabiki, sentado à sombra então gritou
"ou pego um peixe agora ou me chame de marica"

na vara que deixou ali fincada na espera
iscada com um lambari fresquinho que pescou
foi só a vara arcar e ele quase desespera
o peixe de tão forte quase então o arrastou

então me pus a rir de ver tal cena engraçada
cumpadre todo eufórico com seu chapéu caipira
gritava feito louco espantando a passarada
" vem cá cumpadre ver que eu peguei uma traíra"

o bicho veio "vindo" devagar, enfim cansou
mas acho que o cumpadre tava é com mau-olhado
na beira ele deu com rabo n'água e se soltou
deixando o cumpadre furioso e molhado

é nessas que a gente vê que a vida é uma beleza
só temos que agradecer, pensei aqui comigo
pois toda pescaria além da paz da natureza
traz sempre com a gente um fiel e bom amigo