A Onça Viril e o Veado Sedutor
Numa mata fechada, quase uma pequena floresta,
Local que fica próximo ao conhecido Sítio Serenata,
Existe uma criatura selvagem que é imensa e grotesca,
De cor amarelada e com várias pintas desalinhadas.
Imponente e valente, invade as propriedades,
Para pegar algum animal a fim de saciar a sua fome,
Comia galinhas, peruas, tudo que tivesse nome,
Exceto um que era repleto de originalidade...
Tal ser execrado pelo viril predador, era uma veado,
Mamífero delicado e vaidoso, morador do Serenata,
Passeava de um lado pro outro da bicharada,
E transparecia a sua sensualidade e sem nenhum recato.
Todos gostavam desse sujeito,
Julgavam-lhe educado, solidário, amável,
De fato, um animal bastante destacável,
E poderia até tornar-se um político facilmente eleito.
Ao contrário da abordada onça pintada,
Que era repudiada por todos por causa sua má-conduta.
Quando tocava os pés no Sítio, não sobrava sequer uma tartaruga.
Pois a bicharada já estava atenta e, por conseguinte, escondiam-se da indesejada.
O engraçado é que a onça gostava de ser chamada de onço,
Tamanho o seu complexo de masculinidade, julgava-se um machão,
Caçava impiedosamente as suas presas e averiguava toda a extensão,
A fim de matar a sua fome, eliminar eficazmente o seu ronco.
Certa vez, o veado, empolgado com um dos seus passeios, descuidou-se,
E foi passear longe dos outros animais e perto da cerca de proteção,
A bicharada já tinha lhe avisado a respeito dessa perigosa situação,
Mas ele não se importou e, intrasigente, por lá alimentou-se.
Instantaneamente a onça surgiu da mata,
Deu um rugido a fim de impressionar a sua presa,
Mas quando notou que ia atacar um veado-realeza,
Preferiu não ataca-lo, ficou apenas dando uma olhada.
Surpresa com a atitude do predador,
O veado perguntou o motivo da parada,
- Sou macho e não como a veadada!!!
Rugiu o grande animal assustador.
- Mas, nobre onça, sou uma criatura semelhante as outras,
Afirmou o veado, irritado com a evidente descriminação,
Queria uma justificativa para aquela oposição,
Afinal, era feito de carne e ossos como os outros.
- Sou macho e não como a veadada!!!
Reiterou com firmeza o poderoso animal,
Demonstrando que a sua decisão de fato era oficial,
Não queria prejudicar a sua imagem perante a bicharada.
- Qual é o seu problema? Por que essa intolerância?
- Por acaso a minha carne não tem sabor?
Indagou o revoltado veado, demonstrando desconfiança,
Aproximando-se ainda mais da cerca da vizinhança.
- Não me importo com o seu sabor!!!
Trovejou a onça, esbravejando de raiva,
Ao mesmo tempo que recuava as suas pegadas,
- Afinal, sou um caçador de grande valor!!!
- E perderás teu valor saciando a tua fome?
- Esqueces a dificuldade em achar o que comes?
Interrogou o veado, colocando seu corpo nos arames.
As palavras do veado tocaram o coração da onça,
O qual sabia que a sua vítima estava com toda razão,
E não comia nada há dois dias, encontrava-se numa triste condição,
A fome castigava-lhe, na verdade, enlouquecia-lhe,
Sua boca exalava um imenso mau-hálito, pura putrefação,
E aquele animal a sua frente, carinhosamente lhe convidava.
Sabia que naquele horário da noite não teria testemunhas,
Todos os animais dormiam nas suas humildes casas,
Poderia, muito bem, comer-lhe sem nenhum contratempo,
Tudo colaborava de fato para um ótimo evento.
- E então, ó viril onça? Saiba que não tenho a noite toda!
- Daqui a pouco vai amanhecer e todos irão nos ver,
Então, movido pelo instinto de sobrevivência,
A onça dirigiu-se até o veado com certa relutância,
Contemplou-lhe o corpo e puxando pelo braço,
Levou-lhe para a escuridão e o isolamento do mato.
E dessa forma a onça que julgava-se viril,
Cedeu as tentações da carne e banqueteou-se,
A sua intolerância e macheza foram duramente dissolvidas,
E, enfim, ele quis ser chamado de onça, ao invés de onço.
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