RECADINHO
Às vezes eu amanheço,
Nesse adormecer risonho,
Outras noites me aborreço,
Ao amanhecer sem sonhos...
Quando em meu leito morno
Exilada de teu corpo
Sonhos de teu riso adorno
Pesadelos absortos!
Nessa longínqua cidade ,
Entraves e tramas mil...
Dores, queixumes, saudades...
Ensaio a petição,
Como uma nova canção
Que sublimou um adeus:
“Ai, meu Deus...
Vem pra o Brasil!”
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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa