UM CARA BRIGÃO

Quando alguém me despreza
já vou logo pedindo que reza
por que bato sem compaixão.
Pego no pescoço e já estico
também queimo com maçarico
deixo mais preto que zarcão.

Eu já fugí de um dilúvio
também já escalei o vesúvio
já fui guerreiro no Sudão.
Quem me humilha logo se ferra
o cabra grita, late e berra
já joguei dois para um leão.

Já acabei com baile em tuia
bebi muita cachaça em cuia
mas agora só tomo chimarrão.
Mas se começo a descer o punho
o caboclo vai virando rascunho
solto fogo que nem dragão.

Minha bordoada não e fraca
eu arrebento qualquer placa
os meus dedos tem tração.
Onde acerto tudo se desloca
fica tudo mole, igual minhoca
se e gigante vai virando anão.

Ontem, perdi minha dentadura
foi quando quebrei a viatura
eles de chamaram de carvão.
Parei de comer meu pastel
fui batendo no cabo e no coronel
saiu em disparada o capitão.

Ao me chamar de negro da Angola
coloquei o infeliz numa gaiola
joguei na fogueira de São João.
Pulou vinte em cima de mim
duns quatro amassei o rim
uns oito cortei no facão.

Quando de macaco fui chamado
nesse dia apanhou até aleijado
quebrei o bar da Conceição.
Mas, olham o que aconteceu comigo
estou engessado e de castigo
fui atropelado por caminhão.
GIL DE OLIVE
Enviado por GIL DE OLIVE em 05/03/2009
Reeditado em 11/03/2009
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