Ode ao Sono - Um protótipo de poesia
Ai, esse prazer da vida que nunca é o que pensamos
Esse ardor por acordar a cada manhã, só para poder dormir mais um pouquinho
Ai, que insosso essa preguiça que toma conta do corpo
E a cama que nos chama sem termos saído dela nem por um minuto.
Essa paixão é tão grande e dolorida
Quando toca os pés no chão, gela a espinha e não anima
Não é bem como diz o velho ditado
Que Deus ajuda quem cedo madruga
Ai, que dor largar meu travesseiro macio e gostoso
Onde repousa a cabeça cansada do dia de ontem na calma do remanso
Queria ficar outro tantinho
Com a cabeça descansada namorando as penas de ganso
Meu edredom parece falar comigo
Numa cantiga doce de ninar, com apelos atendidos vivamente
Para dormir os sonhos que ele partilha
E foge na manhã do dia dormente
Nem ouso levantar-me, porque sinto mais cansaço
Parece que a noite inteira que dormi
Não valeu um minuto daquele sono que julguei maçado
Ai, que imensidão de lençóis, é ali que quero existir.
Ainda bem que está frio, de gelar a alma
Não preciso tirar o pijama quando vestir as calças
As meias, já estarão comigo desde a noite passada
E o sono acompanha os casacos que escondem os buracos debaixo dos braços
Mas ao tomar o café, sinto um calor percorrer-me
Será que é o sono revoltado com tanta injúria?
Digo a ele: “não se preocupe”
Porque a noite volta com toda a sua candura.