VELÓRIO DO SÃO PAULINHO
Pensamentos desencontrados
Comentários desvairados
Lágrimas contidas no olhar
Todos estão controlados
Embora emocionados
Na forma de se expressar
Consolo já não existe
Ao sorriso que se faz triste
Onde nada se pode fazer
Tempo certo de cada um
Experiência que se renova
Aos que continuam a sofrer!
O salão, na madrugada,
Vai se tornando vazio
Aproxima-se a hora sagrada
O corpo está como o dono* – frio!
• Paulo da Fonseca (75 anos)
• * 27/09/1926 + 03/10/2001
Mulherengo assumido, tinha um comportamento atípico comparado à nossa cultura e estrutura familiar tradicional. Era seu estilo, muito autêntico com relação a isso. Sua mulher de toda a vida aceitava-o como era e invariavelmente o recebia de braços abertos – sempre que, depois de uma “sumida”, ele reaparecia com a maior calma do mundo. Considerava como sina dela e o compreendia como ninguém.
Ela simplesmente o amava como era e o perdoava ou, pelo jeito, nem considerava que houvesse necessidade de perdão já que parecia não haver mágoa profunda. Ela só via as qualidades dele e sentia-se feliz quando ele optava por ficar com ela – e ela aproveitava pelo tempo que durasse.
Seus filhos, no entanto, não viam da mesma forma e não se conformavam com a sua resignação. Isso, obviamente, gerou atritos e mágoas entre os filhos e a mãe. Consideravam que havia frieza da parte dele no seu relacionamento familiar e sofriam pelo que a mãe passava. Típico de família; quem há de julgar?
A morte, agora, passa uma borracha em tudo. Quando o Ari informou ao “Zeco”, seu irmão mais novo, este respondeu: - “Quer dizer que temos agora, lá em cima, um “São Paulinho” para nos livrar de situações embaraçosas?...”
“São Paulinho, por favor, me tira dessa; você, com certeza, já passou por isso e sabe como se safar dessa fria.” Sugestão de súplica a quem for pego em flagrante com mulher alheia. (saiu no velório, onde sai de tudo!)
Como sempre, há um pouco de exagero e talvez ele nem mereça a fama atribuída. Mas, enfim, é o recado...