TEMPOS MODERNOS

TEMPOS MODERNOS

Minha Remington aposentada

fica ali no cantinho, toda empoeirada,

silenciosa, sem qualquer ciúme,

apenas achando graça,

chega mesmo à risada

de ver meu sofrimento,

(que sadismo!)

todo esse tormento,

que me causa o computador.

De última geração,

quando chegou, todo orgulhoso,

causou medo e uma constatação:

não sou capaz, tenho certeza,

de entender o mecanismo

dessa coisa diabólica,

que alterou o

metabolismo, o funcionamento do escritório

Piormente, o capeta do meu filho,

com doze anos somente,

entende com perfeição essa máquina maluca,

fazendo jogos e brincadeiras,

enorme confusão.

Constato, então, que entrei numa arapuca,

e não sei como sair.

Todos os dias são gastos,

fazendo gastos e mais gastos,

tentando aprender

e quando chego a compreender

já há programa mais novo,

dizem,

mais fácil de entender.

E começo tudo de novo,

gravo e vejo no visor,

na verdade monitor,

já consigo imprimir em branco e preto,

nas cores não tomei jeito,

já consulto o dicionário,

aprendi um verto ordinário,

mistura de inglês e português,

deletar,

que significa, ao que parece,

apagar ou consertar o erro

sem ser necessário com borracha sujar.

Há, bem sei,

mil e uma utilidades,

mas eu morro de saudades

dos tempos em que datilografei

na máquina companheira,

que me acompanhou a vida inteira,

sempre fiel e competente,

ao contrário desse diabo,

que com poucos meses de uso

já se encontra superado

e tem de ser trocado

imediatamente

pra eu ficar atualizado.

antonio luiz fontela
Enviado por antonio luiz fontela em 13/02/2009
Código do texto: T1437432