TEMPOS MODERNOS
TEMPOS MODERNOS
Minha Remington aposentada
fica ali no cantinho, toda empoeirada,
silenciosa, sem qualquer ciúme,
apenas achando graça,
chega mesmo à risada
de ver meu sofrimento,
(que sadismo!)
todo esse tormento,
que me causa o computador.
De última geração,
quando chegou, todo orgulhoso,
causou medo e uma constatação:
não sou capaz, tenho certeza,
de entender o mecanismo
dessa coisa diabólica,
que alterou o
metabolismo, o funcionamento do escritório
Piormente, o capeta do meu filho,
com doze anos somente,
entende com perfeição essa máquina maluca,
fazendo jogos e brincadeiras,
enorme confusão.
Constato, então, que entrei numa arapuca,
e não sei como sair.
Todos os dias são gastos,
fazendo gastos e mais gastos,
tentando aprender
e quando chego a compreender
já há programa mais novo,
dizem,
mais fácil de entender.
E começo tudo de novo,
gravo e vejo no visor,
na verdade monitor,
já consigo imprimir em branco e preto,
nas cores não tomei jeito,
já consulto o dicionário,
aprendi um verto ordinário,
mistura de inglês e português,
deletar,
que significa, ao que parece,
apagar ou consertar o erro
sem ser necessário com borracha sujar.
Há, bem sei,
mil e uma utilidades,
mas eu morro de saudades
dos tempos em que datilografei
na máquina companheira,
que me acompanhou a vida inteira,
sempre fiel e competente,
ao contrário desse diabo,
que com poucos meses de uso
já se encontra superado
e tem de ser trocado
imediatamente
pra eu ficar atualizado.