EU, A CULPA E A ESCRITA

EU, A CULPA E A ESCRITA

Cara página amiga,

A ti, que em branco me esperas,

como a alma ao sentimento,

confesso; a escrita é meu legado,

um mal que te posso fazer

ou um bem em ti revelado.

Se uso de tua pureza

para derramar meu verbo

desordenado ou triste,

alegre ou mesmo afoito,

rabiscando sentimentos,

angustias, anseios, verdades,

desejos ou insanidades

na busca de um eu perfeito.

Perdão! Hei de te pedir

se, quando tu já composta,

por mim não é desnudada

e nem mesmo compreendida,

rasgo teu corpo em pedaços

sem pena nem piedade

e busco uma outra, virgem

e por ninguém rabiscada.

Mas se agrego palavras

que falam à minh’alma de artista

traduzem o vago, o belo, o sufocador

desenham um sonho sonhado,

o encanto de um beijo não dado,

revelam a face de anjos, demonios, pecados

ou mesmo de um grande amor.

Ah! Cara página, amiga,

te tornas minha aliada

na busca de algum leitor

pois o prazer e a emoção

traduzem o que penso agora.

E esta arte me permite

denominar-me escritor.

LÍGIA SAAVEDRA