A pia de beber água
A cabeça inclinada,
A cauda pintada
Flácida a pender,
Na estreita beirada.
Os olhos verdes,
Curiosos, sem mágoa,
Fitos no fino fio d'água
Que verte da torneira, devagar.
Orelhas em pé,
Estende a mãozinha,
Molhando-a, todinha,
Para então lambe-la,
Sem se apressar.
Balançando a cabeça,
Não sei se me ponho a rir
Ou porque minha mão o afaga...
Afinal, espalhei vários bebedouros pela casa...
Porque justo ali ele vai se instalar?
Bebedouros limpos,
Repletos de água fresca...
Bebedouros imaculados...
Mas como convencer aqueles olhos, safados,
Que ali não é fonte,
Que não é lugar de gato?
E eu fito o bichano,
Que me olha e ronrona,
Enquanto molha e lambe a pata...
Sem pressa,
Com graça inata...
Imune a censura ou um "não" formal.
Até porque, para ele, isso é o normal...
Bebe onde quer, não onde quero.
Eu que enlouqueça,
Lavando bebedouros
E os enchendo com água limpa...
Eu que o fite, cheia de mágoa.
Ali é o oásis dele,
Sua mania...
A maldita pia
Onde meu gato adora beber água.