A pia de beber água

A cabeça inclinada,

A cauda pintada

Flácida a pender,

Na estreita beirada.

Os olhos verdes,

Curiosos, sem mágoa,

Fitos no fino fio d'água

Que verte da torneira, devagar.

Orelhas em pé,

Estende a mãozinha,

Molhando-a, todinha,

Para então lambe-la,

Sem se apressar.

Balançando a cabeça,

Não sei se me ponho a rir

Ou porque minha mão o afaga...

Afinal, espalhei vários bebedouros pela casa...

Porque justo ali ele vai se instalar?

Bebedouros limpos,

Repletos de água fresca...

Bebedouros imaculados...

Mas como convencer aqueles olhos, safados,

Que ali não é fonte,

Que não é lugar de gato?

E eu fito o bichano,

Que me olha e ronrona,

Enquanto molha e lambe a pata...

Sem pressa,

Com graça inata...

Imune a censura ou um "não" formal.

Até porque, para ele, isso é o normal...

Bebe onde quer, não onde quero.

Eu que enlouqueça,

Lavando bebedouros

E os enchendo com água limpa...

Eu que o fite, cheia de mágoa.

Ali é o oásis dele,

Sua mania...

A maldita pia

Onde meu gato adora beber água.

Zannah
Enviado por Zannah em 19/11/2008
Reeditado em 19/11/2008
Código do texto: T1292824
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