PANE NA COZINHA

Por eu ser um poeta solteiro, solteiro e relaxado,
que só gosta de poesia, e vive na boemia afundado,
um lugar que nunca frequento, e lá na cozinha.
Tive uma vontade danada de jantar uma torta,
mas lá chegando, ja fiquei enroscado na sua porta,
fui mudando de idéia, resolvi fazer canja de galinha.
E quando estava ligando o meu liquidificador,
foi pegando fogo  na cortina e num monte de isopor,
fiquei assustado e fui rezando uma Salve Rainha.

Até pensei que estava num ritual  dum rei Azteca,
quando escutei debaixo da pia o chiado da pereréca,
fiquei convencido que fora uma idéia muito infeliz.
Fez um barulho que parecia um frango na granja,
mas não era, era só o meu espremedor de laranja
assustado e com medo fiquei branco como um giz.
Quando alguns pratos na pia estava lavando
saiu mais e uma dúzia de sapos, pela porta pulando
nessa hora, gritei por São Francisco de Assis.

Percebi que meu frango já cheirava como carvão,
mas de que jeito? Se não tinha aceso o fogão?
Acabou a luz? Vi que era só uma nuvem de pirilampo.
Desanimado, ajoelhei no chão, e para o céu pedi ajuda,
por que não tinha encontrado a imagem de São Juda,
pensei até que ele ja tinha fugido para o campo.
Ví lá no armário, já fervendo um baita formigueiro,
em disparada, saí correndo e fui pro terreiro,
tem uma cobra naquela panela, essa não destampo.

Dando bordoada, quebrei até a vasilha de colorau
fiquei valentão e fui quebrando tudo no pau,
nem sei o que matei, acho que era uma jararaca.
O coração quase para, quando me deu a tremedeira,
no momento em que liguei a minha batedeira,
achei que na cozinha também tinha uma vaca.
Ave Maria, o perigo aqui nesse lugar ronda.
Descobri quando fui para ligar o microonda,
deixaram me sentado no chão, duas antas e uma paca.

Nos eletros, fui dar uma olhada na data de validade,
o mais novo deles tinha uns vinte anos de idade,
aquilo so ia servir, para museu tirar fotografia.
Minha cozinha, tinha virado um parque ecológico
mais parecia com um berçário de zoológico,
nos eletros,comprei quando  nasceu as Casas Baia.
Deixei aquela cozinha, que cheirava pior que quiboa,
alí é  só pulga e rato, que pra todo lado voa,
sai correndo, desanimado fui voltando pra boemia.
GIL DE OLIVE
Enviado por GIL DE OLIVE em 18/10/2008
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