A encosta
Eu fitei a íngrime encosta
E fiz comigo uma aposta:
Esta, eu posso escalar.
Vencia devagar cada metro,
Enquanto subia, quase reto,
Sem pra baixo olhar...
Daí...
Bom, daí é que eu fiz bobagem.
Um amigo, de sacanagem,
Se pôs a me chamar.
Dei uma de burra,
E olhei pra baixo, sem hesitar...
E me lembrei que morro de medo de altura
(coisa que só o medo de aranhas consegue superar).
E enquanto ficava ali parada,
Feito uma doida,
Paralizada,
Pus a mente pra funcionar.
Depois de ter passado tanta coisa,
De ter vivido amor que cansou,
De ter visto tanta gente que fracassou...
Justo eu vou me entregar?
Engolindo o medo,
Ergui o queixo feito rainha.
A decisão de minha sorte é só minha...
Não é o medo de altura que vai me parar!
E, por mais incrível que pareça,
O resto da encosta foi fichinha...
Isso só prova uma teoria minha:
Mulher decidida, nem medo pode derrubar.