Bonifácio do nariz empinado
O Bonifácio era um sujeito fanfarrão
Malcriado, mal educado, nariz empinado
Conversava com todo mundo
Sempre olhando de lado.
Sem nenhuma humildade
Todo cheio de vaidade
Julgava-se o dono da verdade.
Sujeito alto, forte e barrigudo
Nas conversas de boteco
Só ele é quem sabia de tudo
Até que um dia
Nessas tramas que a vida nos apronta,
Logicamente contra a sua vontade,
Pois tudo ele era contra,
O Bonifácio, andando pela rua,
Achando que a calçada era só sua,
Esbugalhou os olhos de repente,
estrebuchou o corpo pra traz e pra frente
e prostrou-se ao chão como um Zé Bedeu.
E ele, só para se aparecer, ajeitou o cabelo,
olhou pra todo mundo com descaso
E fazendo o maior pouco caso,
empinou o nariz... e morreu!
No velório pouca gente apareceu.
E mesmo depois de morto,
Ali gelado e todo torto,
O danado não perdeu a imponência.
Tenha a santa paciência!
Lá dentro do caixão,
Todo cheio de razão,
Com todo mundo a sua volta
Dando-lhe a maior atenção,
O Bonifácio todo cheio de fricote,
Se achando a última bolachinha do pacote,
Todo engravatado e perfumado,
Já de partida pro além,
Com o nariz empinado,
O desgraçado,
Não olhava pra ninguém.