UM, DOIS, TRÊS... JÁ!

Altas horas... Local ermo...

Rua mal iluminada...

Avistei um vulto, ao longe,

vindo na mesma calçada.

Usava um longo casaco,

feito túnica de monge,

mas de gola levantada.

Ele estacou, em seguida,

a cinco metros de mim...

Não ia parar... parei,

porque o medo quis assim.

Numa atitude suspeita,

enfiou a mão direita

no bolso do seu casaco.

Também pus a mão no bolso...

“se ele se mexer, eu saco!”

e fiquei já preparado.

Mas lembrei-me de um detalhe:

eu estava desarmado...

Ele foi erguendo o braço,

confirmando a previsão:

viria chumbo de lá...

Pra não bancar o covarde

nem morrer sem reação,

ao sacar a lapiseira

eu contei: “um, dois, três... já!”

Sem ter havido um disparo,

abandonamos o posto:

num ato sincronizado,

ele fugiu para um lado

e eu corri pro lado oposto.

Fomos ou não felizardos?

— Diz o ditado que, à noite,

todos os gatos são pardos.

* * *

Dorival Coutinho da Silva
Enviado por Dorival Coutinho da Silva em 28/09/2008
Reeditado em 29/09/2008
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