Houve um tempo
Nos meus tempos
Em que eu, Ninfa do Tejo
Tranquilamente vagava
Aquém dos Montes Hermínios
Uma tarde caminhava
Mal envolta em minha toga,
Pisando a erva tenra.
Aqui e ali colhia
Campainhas coloridas
Das que ali nascem ainda
Rompem as azuis do gelo
E a meio do mês terceiro
Surgem outras, amarelas.
Ia eu pois sossegada
Na beleza de meus dias
O sol manhoso filtrava
Dentre os carvalhais centelhas
Doiradas, finas, esplendentes
Que se enredavam nos fios
Dispersos de meus cabelos
De tudo tão distraída
Seguia, então como agora,
Saltitante vereda fora,
Por vezes fora da vereda...
Eis que oiço quebrar-se um galho
E um vago arrastar ligeiro
Levo ambas as mãos ao seio,
Dos dedos as flores soltando,
Que ante meus olhos vislumbro
Um gentil rosto barbudo
Brilhantes olhos afoitos
E a beleza de um torso
Mais reluzente que oiro...
Dizem que depois, no Olimpo,
Zeus rira muito e bem alto
Daquele meu sobressalto
Defrontando o belo Fauno.
Afrodite, divertida,
Serviu-lhe uma taça de ambrósia
E Minerva, de zangada,
Bole que bole com a agulha,
Tecia uma peúga
Não fosse o Eros menino
Apanhar um resfriado!