À VOVÓ ALTA
Ainda me sinto menina diante de teu retrato...
Eu queria ter-te curtido mais que somente uma senhora alta,
de longas vestes pretas, imensa paciência e voz doce.
Mas eu tinha pensamentos cortados, sem perspectivas de avó, família,
Enrustida naquela imensa revolta que norteou minha vida.
Mas eu te lembro imponente, querida,
esguia, muito alta para uma menina pequena e perdida...
Lembro-te augusta, deslizando pela casa e uma pena nos olhos
me olhando quando eu balançava, na rede, pensativa...
Lembro teu cheiro de ervas para mim sem nome.
Tuas mãos tão brancas e longas e lisas iguais às de meu pai.
Lembro-me de ti pouco e poucas vezes, porque vivia em outro mundo
todo tempo, e se eu tivesse tido tempo
de te contar meus ais, (quem sabe?) não seria tão carente.
Mas tu eras um parente a quem se devia respeito,
e respeito era distância, a longínqua mãe de meu pai.
Queria ter-te curtido mais. Não me esqueço
Quando me escondias sob tuas vestes protegendo-me contra
O chinelo de mamãe e dizias docemente:
-Não sei onde está a Rachelzinha...
Ah! Vovó Alta! Onde estás?
Em que asa de anjo repousa tua bondade?
Em que nuvem no céu se esconde tua alma?
Será que já é tarde para te dizer:
que saudade?
Vovó Mathilde Rosa Moreira Dias
Umas férias em Paraty