Testamento
Aos meus filhos deixo como herança
o espírito criança que tive...tenho...terei...
Deixo entre livros os meus rabiscos,
o meu canto em outros discos,
minha vida , alegria atroz.
Deixo também a vontade
essa minha estranha mania
de sempre querer saber mais.
Deixo o som dos sinos tocando...
das renas nos céus voando,
minha infância... meus natais.
Deixo ao Felipe , distintamente,
a batida de meu coração doente
carente, mas crente no amor.
Deixo o sonho da felicidade
da compreensão... fidelidade...
e o amanhã que virá depois...
Deixo ao meu primeiro rebento
a criatividade, o talento,
o gênio forte...nobre...
a sensibilidade e o prazer.
Deixo-lhe a vontade de crescer,
o “não ter medo do mundo”
o lutar e o vencer.
Leatrice , minha princesa,
a você deixo a beleza de ser algo mais puro:
serás o meu eu projetado no futuro.
A ti deixo a felicidade que não tive,
a tranqüilidade que não mantive,
o prazer que não desfrutei.
Deixo-te a viagem dos sonhos,
cavalos alados, príncipes encantados,
castelos de cristal.
A ti , princesa adorada
deixo a sina de ser sempre amada,
querida, valorizada, até não poder mais.
Deixo-te a luz do sol , o brilho das estrelas
e a faculdade de velas em plena manhã brilhar.
Deixo-te a vida que não te foi roubada,
o saber que instrui,
e a realidade de que serás amada,
amada como eu nunca fui.
Não deixo castelos suntuosos
caminhos tortuosos,
pontes concretizadas...seguras...
Deixo sim o meu olhar perdido no horizonte,
e a incerteza de que um dia nele desponte
o futuro que almejei.
Fogos?... Só os de artifícios!
Balas?... Só as mais doces !
Canhões?... Só os de luzes de um teatro !
A fome , a doença , a maldade
aniquilados... sem piedade
pelas rimas que versejei.