O CRESCER DAS ASAS
Meu filhote quer agora alçar vôo.
No início, eram pequenas as tentativas,
Desengonçadas até, e eu, achando graça ria,
Pensando que ela não conseguiria.
Da minha maturidade via apenas um filhotinho,
De plumagens arrepiadinhas, branquinhas,
Com asinhas incompletas, fraquinhas,
E não percebia como o tempo corria...
Fui traída pelo próprio instinto materno... quem diria?
Meus olhos que supunham tudo ver, na verdade nada viam,
Enquanto preocupava-me apenas em saciá-la na vida.
Quando um dia, voltava ao nosso ninho
Trazendo-lhe no bico a frutinha preferida,
Ela já voltava do galho ao lado,
Toda faceira de sua pequena conquista;
Faminta, porém, deliciou-se com a frutinha.
Mesmo com um calafrio percorrendo-me o corpo inteiro
Ainda achei que haveria muito tempo,
Até que ela pudesse voar e se alimentar sozinha.
Ainda assim, por amor, apresentei-lhe os perigos,
A fonte mais segura e mais límpida,
O bosque mais lindo, o pomar mais farto,
Trazendo-lhe sempre, porém, de volta
À segurança do nosso aconchegante ninho!
À tardinha, então, quando o sol se recolhia,.
Juntava-me a ela que, arrepiadinha de frio,
Precisava do meu corpo para manter-se aquecida...
E assim fui vivendo: útil e feliz, pois eu tinha,
Minha cria; tão frágil, tão dependente, tão minha,
Que achava estar muito longe ainda, o dia
Em que ela abandonaria o nosso ninho.
Não... Esse risco, ainda não existia...
Hoje, porém, dei-me conta da surpresa.
Ela olhou-me nos olhos, agitou as asinhas,
Levantou vôo, fez acrobacias lindíssimas,
E pousou de volta, cantando, toda alegrinha!
Meu coração disparou. Havia chegado o momento.
Tentei cantar para ela, mas ela mostrou-me um canto mais lindo,
Olhou-me mais uma vez, e em seu olhar me disse:
_ Mãezinha, agora voarei sozinha. Até um dia...!
Senti-me só... E descobri que passarinho...
Também chora, também sofre, também pode ser triste.
O ninho, de repente ficou enorme, frio.
Olhei para o céu e lá ia ela! Longe, altíssimo!
Não vi, então, mais sentido algum naquele ninho
E fui-me embora. Procurei um lago tranqüilo.
E vendo nele meu próprio reflexo,
Pus-me a chorar, sozinha!
Um dia, porém, sem cansar-me de procurá-la,
Depois de voar por todas as matas, bosques e florestas,
Depois de perguntar por ela a todos que eu via,
Senti-me cansada, com as asas doloridas,
Pois já havia percorrido incalculáveis distancias.
Resolvi pousar numa frondosa árvore,
E qual a minha surpresa, quando sem querer, esbarrei num ninho:
Lá estava ela! A minha avezinha, junto a seu parceiro,
Chocando seus próprios ovinhos...!
25-05-00