A Última Roça
Na curva do tempo, a enxada descansa,
O chão, que outrora era vida, é lembrança.
No campo dormido, sementes ausentes,
Histórias guardadas no peito da gente.
O velho chapéu, pendurado no prego,
No canto da casa, ressoa um apego.
São mãos calejadas que o mundo moldou,
São vozes que o vento jamais apagou.
A última roça resiste no olhar,
Do avô sentado, cansado a lembrar.
Dos filhos correndo, do milho em espiga,
Do sol que queimava a pele antiga.
Agora o mato, invasor silencioso,
Cobre o terreiro, o grito saudoso.
Mas a família, provada e ferida,
Carrega o campo na alma vivida.
O fogão de lenha, a fumaça que sobe,
Guarda o sabor que o progresso não roube.
Mesmo que a roça se perca no chão,
Ela floresce em outra estação.
Pois terra de sangue, de luta e suor,
Não morre no tempo, ressurge maior.
Na memória dos netos, no sonho sagrado,
A última roça nunca é passado.