ODE AO SEU ZÉ

Desde que me senti gente,

Tive a tua companhia.

E, até mesmo quando ausente,

Na saudade eu te sentia.

Vivemos tantos momentos

De tristezas e alegrias,

Que se foram como os ventos

Das minhas mil fantasias.

Um dia, nos separamos

Por diversas circunstâncias.

E a viver, então, passamos

Da saudade das distâncias.

Até que num triste dia,

Bem mais longe te senti,

Já não me reconhecias

E por dentro entristeci.

Mas guardei minha tristeza

Para mim, pra mim somente,

Porque esta, com certeza,

Somente quem ama sente.

Depois, foste pra mais longe,

Pra morar em outro estado.

Te ver ir, pra nem sei onde,

Eu não estava preparado.

E, com a Covid em alta,

Eu nem fui me despedir.

Isso hoje me faz falta,

Mas não quis te ver partir.

Só pela tela te via,

Tão somente pra te ver.

Assim era cada dia

E era o que eu podia ter.

Isso até que numa noite

A notícia mais cruel

Chegou-me como um açoite

Com gosto do amargo fel.

Já dormia, madrugada,

Quando o celular tocou,

Minha irmã desesperada

A notícia me contou.

A notícia foi espada

Que cortou meu coração,

Minha alma angustiada

Chorou a separação.

Com a família somente

Eu passei aquele dia.

Minha igreja indiferente

Foi à dor que eu sentia.

Assisti ao teu enterro

Por uma vídeo-chamada.

E senti-me no desterro

Dentro da minha morada.

Agora não mais te tenho

Nem sequer sendo distante.

E hoje ainda me contenho

Em pensar no teu semblante.

Que na tua morada eterna,

Descanses da dura lida.

A tua saudade paterna

Levarei por toda a vida!

Pois sei que haverá um dia

Que nos reencontraremos

E, de novo em alegria,

Para sempre viveremos.

ezkyas_poeta_da_silva

março de 2022 a agosto de 2024