Mãos Silva
Enquanto aliso meus dedos em uma aula de história- Napoleão, Portugal, escravidão, revoltas, independência-
Penso sobre as mãos de minha família
Minhas ressecadas mãos lisas carregam calos em dedos específicos, tinta preta esferográfica, unhas longas levemente craqueladas, falhas marcas de uma varicela saudável e uma cor de mulata
As de minha avó, a mais velha de nossa família,
Carregam frágeis dedos e ossos cansados de todo esforço braçal
Pincelado de amor e moradia de uma família imunda
Calos sarados de cabos de madeira e tecido molhado
Mãos hoje frágeis que carregaram famílias em vosso baço
Minhas tias fadadas ao peso familiar que tudo em uma moradia cheia de crianças possa pesar–
Madeira, tecido, água, sabão, pequenas e grandes bundinhas para cuidar–
Mãos calejadas de vossas próprias costas carregar, mantêm-se pálidas pelo sol não visitar
Os pequenos dedos rígidos de minha mãe pesam ao simples ato de acordar
Água, remédios, mãos, madeira, plástico, sabão, bundinhas pequenas, médias, grandes e maiores ainda para cuidar
Seus calos são os desgastos ossos a quebrar por todas as outras tentar sarar e cuidar
Finalmente as do fundador de nosso lar: ressecadas, recheadas de cicatrizes e calos de tanto trabalhar
Assim, desde sempre asperas tentam transmitir calor
A fim de uma vida melhor nos proporcionar
Todos teimosos demais para se cuidar.
Apresento-lhes as teimosas mãos Silva.