No episódio anterior contei que minha avó era uma jovem linda, casou-se por amor, teve sete filhos e o marido foi assassinado, mudando o seu destino. Precisou cuidar sozinha da fazenda da família, andava a cavalo e usava arma de fogo para se proteger.
Conta-se que Maria era muito comunicativa, alegre e cativante, além de possuir capacidade de liderança.
O ano era 1946 e o mundo ainda estava sofrendo com a Segunda Guerra Mundial, quando uma de suas filhas, a mais velha, casou com um rapaz de ascendência árabe, muito trabalhador. Então a situação começou a melhorar.
Nessa época, devido a distância entre a área rural e a cidade, ela resolveu mudar-se para a fazenda para tirar de lá o sustento da família. Pouco tempo depois o casal mudou-se também para ajudá-la a realizar benfeitorias e sobreviver da terra.
O genro de Maria era um pedreiro orgulhoso de sua profissão. Com habilidade conseguiu realizar obras que davam um pouco de conforto à família. Fez uma fornalha com forninho para assar pães, construiu um monjolo, reforçou a estrutura da casa e o telhado, limpou a área ao redor da residência, ampliou a casa, instalou o curral para as vacas leiteiras e o paiol para guardar o milho.
Nasceu a primeira neta, enchendo a casa de alegria. Mas dois anos depois, outro infortúnio iria abalar decisivamente a história da família. Maria costumava caminhar pelas terras. Naquele dia foi até as margens do Rio São Marcos, que ficava a 3 km da casa. Na volta, pisou sem querer na peçonhenta. Era uma cobra cascavel, que a picou. Não tendo onde pedir ajuda, continuou andando até a casa. O veneno já circulava pelo corpo, a dor era insuportável. O genro arreou o cavalo e saiu a galope em busca de socorro. Atravessou o rio de canoa, galopou velozmente os 50 km até a cidade, pediu socorro, entrou no jipe com o médico e seguiram na velocidade máxima possível em direção ao rio. Mas, ao chegarem à fazenda, já não havia o que fazer para salvá-la. Maria havia se transformado em estrela aos 52 anos.