MEU PAI
MEU PAI
Ah, como eu lembro! ... Eu era bem pequeno.
No fim dos dias, ele mal sentava,
Eu me agarrava nele, e suas pernas
Eram gangorra em que me balançava.
Ora em seu colo, embora ele cansado,
Contava histórias com toda meiguice
Ou corrigia o meu falar errado,
Me soletrando os termos mais difíceis.
Quando falavam do Papai do céu,
Eu tinha Deus como meu pai da terra:
Sabido, forte, honrado e sem labéu,
Bondoso e santo como ninguém era.
Era meu pai a mais doce criatura.
Nunca ouvi dele em toda sua vida
Uma palavra, um olhar de censura
Nas traquinagens tantas repetidas.
Eu fui crescendo, me afastei aos poucos
E nem abraços lhe dei mais então.
Aos seus chamados eu me fiz de mouco
Por ter vergonha, timidez senão.
Ah, se eu pudesse tê-lo aqui comigo,
Quantos abraços não daria agora,
Meu pai saudoso, companheiro, amigo,
Pra reparar a timidez de outrora.