Morro dos ventos mutantes
O morro dos ventos mutantes
Havia ali tantas histórias
Algumas passadas, outras bem presentes
Mas todas de vidas entrelaçadas
Onde o riso e o pranto
A riqueza e a pobreza
A fé e a incredulidade
Mesclavam-se
Causavam atritos.
Era uma casa, no alto de um morro
Um imenso casarão.
Tantos ventos por ali passavam
Tantas coisas testemunharam
Naquelas vidas absortas
Em suas próprias alucinações
Em suas guerras infindas
Em suas desgraças.
Esperava-se que bons ventos
Trouxessem a paz há muito esquecida
Mas quanto mais mudavam os ventos
Menos as pessoas mudavam:
Disputas por migalhas de amor paterno
A soberba de uma vida abastada
O desprezo pelos humildes
E a ambição que trazia separação
Que já trouxera a morte
E (por mais que se negue)
Um suicídio.
Naquele morro de ventos vorazes
Que desenhavam as copas das árvores
E espalhavam o pó do chão
Algumas flores nasceram tímidas
Em pueris corações
Que, por não suportarem as ausências
Por insistirem em jamais sucumbir às demências
Dali partiram para longe
Porque, mais do que sobreviver
Era preciso viver.
Mas será que haveria esperança
Para os que ali permaneciam
Que não conseguiam romper suas cadeias
Que insistiam naquele vida enfadonha
Naquele lar cruel e insano?
Talvez, se os ventos de suas almas mudassem...
Mas não, não mudavam jamais!
E o que sei daquele morro?
O que sei do velho casarão?
Até onde as histórias voaram
Até onde os ventos as levaram
Abandonado está.
De velhos, todos morreram
E aqueles que vivos ficaram
Escondem os seus segredos
Mas para lá não voltaram:
Tristes memórias merecem ser enterradas.
Os ventos continuam os mesmos
Sempre impiedosos
Alguns ventos mudaram
Alguns
Seguem pesarosos.
Este poema faz parte do meu novo livro MEMÓRIAS DO VENTO. Todos os direitos reservados. Lei 9.610/98.