Guerra Fria

Somos dois soldados

Num campo de batalha

Cada um enfrenta a sua guerra

E escolhe entre o pão ou a migalha

Todo dia a gente sai de casa

Arma em punho ou no coldre, tanto faz

Enfrentamos inimigos de toda sorte

Batalhando pra tirar a nossa paz

A gente mira, a gente atira

Esquece o coldre, é arma na mão

O olho não pisca, não perde de vista

Olhar no horizonte, não fita o chão

Protege vanguarda e a retaguarda

A guerra é tensa, não dá pra dormir

E no final da batalha, cabeça cansada

Só enxerga o caminho de casa a seguir

Mochila pesada nas costas carrega

Armas na cintura, o peso dobrou

Na porta de casa, já tira o corturno

Mas carrega pro banho tudo o que devorou

E é assim que da porta pra dentro

A guerra continua a acontecer

Dois soldados feridos, exaustos

Já não sabem como agir ou o que fazer

Mas soldado que se preze, aprendeu na guerra

A cuidar de suas armas com esmero e paixão

E sabe que existe lugar pra aciona-la

E outro destinado à sua manutenção

No campo em que se dispara uma arma

Um soldado não se ajoelha para a limpar

Mas numa casa onde se debruça para cuidá-la

Jamais a irá disparar.

E foi assim o fim da guerra fria

Que nossos corações por tempos travou

Não importa a guerra que travamos durante o dia

Chegou em casa, o soldado desarmou.

E amou.

E cuidou.

E a guerra? Acabou.