Fazendas
Então avisou a mãe que este ano não iria
Sabe como é: “Tudo pela segurança!”
“Olha o perigo desta pandemia!”
Papo que não enganava nem criança
Não que não fosse o discurso correto
Mas antes da pandemia dava pouco as caras
As vezes precisando de uma cuidadora de netos
Porque sem motivo as ocasiões eram raras
Nunca viu motivo em troca de carinho
Nem em expressar toda a gratidão
Parece que se criou sozinho
E a visita era uma chata obrigação
Então quando lhe escasseavam as desculpas
Apareceu uma pandemia quase beatificada
Salvo conduto, atrasos sem multa
Da culpa, uma mente emancipada
Mas um dia chamando os filhos para a mesa
Percebeu o poder do “ser exemplo”
O filho não quis ir e usou como defesa
Para a vovó papai também nunca tinha tempo
Entre a ira e a dor no coração
Ficou saudoso de quando ainda podia
Sem conseguir segurar a emoção
Chorou por mais uma vítima da pandemia
É o tecido social bem esgarçado
Por uma pandemia de corações duros
Com grosserias e só ver o seu lado
Tecido peneira, tantos os furos
E você? Cuida bem do seu tecido?
Pois uma coisa eu recomendo
Se não que morrer arrependido
Atenção! Certas coisas que não têm remendo.