MEMÓRIAS DA CASA DA BEIRA

«Minhas trovas de Saudade»

Quando eu me lembrei de ti,

Musa da minha paixão,

Cá dentro de mim revivi

Um ondular de emoção…

Foste a canoa e a esteira

Do palco da minha instância

És agora, ó Casa da Beira,

A grata saudade d´ infância.

Passou por ti minha história,

Meu caminhar d´ ansiedade,

Vivo agora a tua memória

Entre a ausência e a Saudade.

Memória dos meus irmãos

Que, junto comigo, aí estão

Encaixilhados p´ las mãos

Nas asas do vento suão.

Vasculho na arca do tempo

Aquilo qu´ o tempo não dá

Tenha ou não empenhamento

Sempre a Saudade lá está.

Minha mãe, a alma e a vida

Enquanto sua Vida durou,

Elvira, a Santa esquecida

Da Beira que ela deixou.

Meu pai, quixote d´ indústrias,

Lençóis de linho e de seda,

José, qual páter-famílias

Com vida discreta e azeda.

Primeira irmã, timoneira

Da barca do colectivo,

Custódia, a menina da Beira

Sem ganho nem donativo.

Segundo irmão, pertinaz

De bússola meia à deriva,

Horácio, de triste cartaz

Num deambular sem saída…

Segunda irmã, em labuta

De missão humanitária,

Teresa, de sonho e de luta

Com uma alma solidária.

Terceira irmã, abnegada

Sem asas, mas sonhadora,

Alice, artista prendada

Mas por demais sofredora.

Segundo irmão, nado poeta

De inspiração ajeizada,

Abel, de musa discreta

Co´ a sua obra esperada.

Eu próprio, aqui trovador,

Lira aberta a toda a prova,

Francisco, o fiel criador

Co´ a justa métrica nova.

Quarta irmã, sete partidas

De enfermeira cuidadora,

Conceição, das sete vidas,

Disponível a toda a hora.

Memórias da Casa da Beira

Onde minha alma s´ amarra

Quero-vos sempre à minha beira,

Como os fados duma guitarra…

Musa minha e meu encanto

Que m´ assistes com probidade

Abençoa, neste meu canto,

Minhas trovas de Saudade!

Frassino Machado

In INSTÂNCIAS DE MIM

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 31/10/2020
Reeditado em 31/10/2020
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