O mochileiro

Sou um jovem como tantos

que andam rolando nos cantos

carregando uma mochila.

No cinzel dos meus tropeços

moldo a vida que mereço...

- o destino é a minha argila -.

Quero que saibam, porém,

que eu tive um dia, também,

minha família... meu lar.

Não é somente por gosto

que eu vivo neste desgosto,

sempre sem rumo, a rolar.

As vezes sinto saudades

de ter um lar de verdade,

como eu tinha antigamente.

Porém prefiro rolar

do que viver num lugar

que não sabem que sou gente.

Cansei de ficar calado,

de ser ferido, humilhado,

por erros que não causei;

de sempre ser o suspeito,

de ver negado o direito

de aprender o que não sei.

Cansei de acordar com gritos,

de ser causador de atritos

entre quem devia amar.

Cansei de ver meus projetos

tratados como dejetos,

sem direito de sonhar.

Cansei de ser sufocado,

de ser sempre escorraçado,

chamado de vagabundo.

Cansei de ouvir todo dia

que alguém que não produzia

não merecia este mundo.

Com meu orgulho ferido,

pensei muito... e, decidido,

resolvi cair na estrada.

Desde então vivo sozinho,

me acompanha no caminho

a mochila empoeirada.

Não guardo mágoas no peito

pois sei que tenho defeitos,

como todo mundo têm.

Perdôo quem me perdoa

e sinto que a vida é boa

para quem pratica o bem.

Não acho certo ou errado

este viver desgarrado

que o destino me legou.

Tento fazer minha sorte,

cada horizonte é meu norte,

sou sempre aquilo que sou.

Você que é pai, que me escuta,

que também tem como luta

criar filho adolescente,

não quero servir de espelho

mas arrisco este conselho :

trate o filho como gente.

Como a planta que viceja

e, sempre sedenta, deseja

água pura em quantidade,

seu filho tem que ganhar

muito amor para encontrar

a própria felicidade.

Sinta que este filho tem

dentro do peito, também,

um coração a pulsar.

Que este filho vive... pensa...

Que tem uma sede imensa

de bem se comunicar.

Desculpem se falei tanto

mas sei o gosto do pranto

por isso tento evitar

que jovens da minha idade

passem as dificuldades

que a vida me fez passar.

Se você é um pai consciente

leve ao filho adolescente

cada certeza que é sua...

Se você pouco se importa...

grite bem alto... abra a porta...

jogue a mochila na rua...

Milton Souza
Enviado por Milton Souza em 11/11/2005
Código do texto: T70246