Camarim
Na parte não visível, interna,
um canal tubular
que liga a vulva ao colo do útero,
como num corredor de camarim
com rampa que dá acesso ao palco
para começar o espetáculo sem pompas,
o ovário libera o óvulo
para que ele chegue forte,
seguro e sadio até as trompas...
Ficará lá bem na dele, de prontidão e só,
aguardando os milhões de espermatozoides
que almejam um lugar ao sol.
Eles passarão por inúmeras dificuldades,
por perigos inigualáveis,
mas precisarão sobreviver.
Correm com muita coragem
pra ver quem chega primeiro,
pois todos querem vencer.
Apenas um irá formar,
depois da fecundação,
um zigoto, que se transformará num feto,
depois, será um bebê que espera nascer com toda meiguice,
com direito a ser criança, adolescente, homem ou mulher,
mas nem todos chegarão à velhice.
Todos acreditam,
pela própria fé interior e instintiva,
que é preciso navegar;
que não se pode desistir jamais;
que é preciso seguir e lutar
até o último momento;
que adiante existe mudanças,
melhorias, desafios, transformação,
um novo ciclo, esperanças...
Eles não sabem se voltam,
nem têm certeza da chegada,
mas acreditam na partida.
E só isso bastaria
para justificar
a vida.