Aborto
O talco arranha
a fralda nua
e sem assento.
O pente assanha
Os frios do casaco
Sem menino dentro.
O chocalho surdo,
sem orquestra, mudo,
o peito não ganha.
Insônia, insônia,
o berço uma jaula,
a grade, tamanha.
Dentro, a mamãe
oca e sem ninho
gorjenado fonha.
Sem nenhum sonhar
sem a Via Lactea,
sem seu amanhã;
Os seios sem chão,
pisando empredada
a chupeta amarga
Sem voo de cegonha,
sem rumo, sem carga,
na selva medonha.