Vovô, Fala Serio!
(Ao meu avô paterno,
Antonio Estevão de Moraes)
Ah, vovô, fala sério,
Eu não te conheci,
Mas me lembro de fato,
Tinhas a tês morena,
Cabelos castanhos claros,
Uma camisa branca,
Sob um terno surrado.
Vovó sempre nos mostrava
Com carinho teu retrato
Que ela trazia dentro
De um baú bem guardado!
Ah vovô,
Porque você deixou
Esse mundo te levar?
Vovó ficou bem calada,
num cantinho a soluçar,
Os dois filhinhos ao lado,
e o terceiro em seu ventre,
e, talvez um grito mudo
soava bem estridente,
Papai olhe, não vá
Fica paizinho com a gente!
Ah Vovô,
e o tempo foi passando
quem sabe? ela dizia:
um dia ele vai voltar?
As crianças foram crescendo,
e ela, ainda jovem a esperar...!
Mas quando eu era menina,
Me lembro que muitas vezes
a vi com o olhar perdido
e quando se dava conta,
soltava um grande suspiro.
Ah, vovô,
Porque você esqueceu
Da minha vó Branquinha?
De saudade ela sofreu
Eu me lembro, coitadinha.
Ah, como é triste amar,
Um amor sem esperança
De um dia encontrar
Alguém que não sai da
Lembrança, ainda mais,
Que deixou três filhos,
Pra sozinha ela criar!
Ah, vovô,
Muitas vezes ela esperou
Receber uma cartinha
De amor e de saudade
Dizendo: olá querida...
Mas qual, foi debalde
Essa carta chegou sim,
Mas veio já muito tarde
Duas lagrimas compridas
Desceram- lhe pelas faces
Ela já estava velhinha!
Foi uma carta muito triste
eu li, então posso falar,
era uma carta sentida,
E ele falou: minha querida,
Nessa minha longa vida
Fui infeliz ao te deixar!
muitas vezes eu pensei
ah, um dia eu hei de voltar
Mas o orgulho, a altivez,
a vergonha e a insensatez
impediram-me de regressar!
Então, minha querida,
é triste a minha aflição
e nessa altura da vida
quero te pedir Perdão,
não podemos ficar juntos
estamos idosos demais
eu tenho outra família
e Deus não dorme jamais
Breve me chamará desta vida
para estar juntinho ao Pai!
Saudades sem fim!
Severina Almeida de Morais (Vovó Branquinha) morreu em 1982.
dois anos depois, morre Vovô Antonio Estevão de Morais - 1984.