A DITA "MELHOR IDADE"
Quando chegamos à dita “melhor idade”, geralmente estamos sós. Os nossos amores, muitas vezes já partiram, restaram as lembranças boas, e consequentemente muitas saudades. Todavia, em outros casos ficaram também recordações dolorosas. Mas faz parte da nossa existência;
Algumas pessoas foram muito felizes, outras, nem tanto. Algumas aproveitaram todas as oportunidades, todos os momentos; outras, por medo, recuaram. Porém, em ambos os casos, a vida valeu a pena. Arcamos com as consequências.
No entanto, quando chegamos a certa idade, e notamos que o amor verdadeiro não chegou, entendemos que ele não chegará mais. Isto porque, tudo tem o tempo certo e a hora certa, mas em por isso, deixamos de viver;
Então procuramos manter as velhas amizades, porque a esta altura da vida, novos relacionamentos afetivos são praticamente impossíveis de acontecer.
Notamos que a nossa pele fica flácida e perde o viço, nossos passos moderados, nossos cabelos ficam brancos, e os nossos dentes amarelos;
Trocamos a elegância e a beleza dos sapatos, pelo conforto das pantufas e dos chinelos.
Fazemos um bolo de laranja, com cobertura de chocolate, o preferido de um dos sobrinhos;
Mas ele não vem comer, ele já não é mais criança, tem outros interesses, prefere outros carinhos.
Ficamos tristes, mas entendemos. Afinal, não precisamos jogar o bolo no lixo, nem tampouco comê-lo sozinha;
Levamos um pedaço para uma amiga, que também vive só, e dividimos a outra parte com a vizinha.
E assim a vida segue; a dita “melhor idade”, mas para quem é melhor?
Se falarmos, podemos ofender; se calarmos, nosso silêncio será questionado, não sabemos se é melhor ficar, ou fugir;
Entretanto, queremos dizer alguma coisa, iniciar um diálogo, puxar um assunto para conversar, para interagir.
Mas todos têm ouvidos moucos, ou outras prioridades a escutar;
Quando não estão muito ocupados, com os olhos pregados na tela do celular;
Em todas as fases da nossa vida, tínhamos prazer em ouvir nossas avós nos contar suas histórias;
Talvez, por isso, é que sabemos muitas coisas, de um tempo em que não vivemos, mas que alguém tinha na memória.
Contudo, o mesmo tempo que é impiedoso com a nossa carne, branqueia os nossos cabelos, amarela os nossos dentes e modera os nossos passos – preenche o nosso cérebro com sabedoria e conhecimentos.
Assim sendo, se fôssemos ouvidos, teríamos muito a acrescentar, e quem sabe até ensinar alguns valores, como atenção, interação e bons relacionamentos.
Zezé Freitas – 14/07/2019