CARTAS DE AURELIUS POLION (baseado em fragmentos de papiro de 1800 anos)

Eles apreciam Pitágoras,

Bebem de fonte grega...

desconhecem força do Nilo,

Vivem em guerra, trâmites;

Mal sabem de mandrágoras,

Mirras... comem manteiga.

Se veem sarcófago, é abri-lo...

Profanadores de pirâmides!

Mas não são como vós, família !

Ao menos eles me têm algum apreço.

Vós sois uns indiferentes, ingratos.

Escrevo- vos, aguardo, dentadura rilha,

Não respondem, mas sabem o endereço!

Se voltar, farei de vós gato e sapato!

Sou agora legítimo cidadão de Roma.

Não respondem? Isso, vai, toma !

Ventos frios na Panônia Inferior*

Não se equiparam à frieza de vós.

Curto solidão, frio,desejos e dor,

E vós ? Vós direis que eu fique a sós!

Sangue de meu sangue, sois desalmados,

Quero notícias vossas e Tebtunis*.

Meus elmos, cinturões, túnicas desolados,

Vivo como se a cavar mil túneis !

Se escreveis dando-me notícias, sereis sóis

A aquecer e iluminar meu coração de filho.

Ofertai-me nossa areia que reflete o brilho

De Rá, mandai-me novas de vós !

Enviei-vos já meia dúzia de missivas -

Nenhuma resposta, isso me preocupa, aflige.

Sei que vós, irmãs, irmãos, mãe são almas vivas,

Não vos comporteis com mistérios de esfinge.

* Panônia Inf.= Budapeste; Tebtunis ficava a 130 Km de Cairo.

NOTA:

No final do século XIX, egiptólogos ingleses acharam fragmentos de papiro ilegíveis, escrito em grego, de um soldado da legio IIadiutrix (2a. legião auxiliar), instalado na Panônia Inferior, em 214 dC, endereçada à família em Tebtunis.

O pesquisador americano Grant Adamson, da Universidade de Rice, no Texas, decifrou o papiro e apresentou o trabalho em Berkeley, em 2011.

Naquela época não havia correio, as cartas passavam de mão em mão, no caso , talvez de mercadores,até chegarem ao destino. Segundo Adamson, o soldado não escrevia bem, misturava grego com latim e provavelmente falava em egípcio mas essa língua não era escrita na época.

O poema é um exercício poético, inclusive não tenho muita familiaridade com verbos a segunda do plural (espero não ter feito feio, se houver erro, a culpa é de Aurelius...), mas mantive o teor ada carta e dei-me a liberdade de criar imagens, como as da 1a estrofe, a qual deprendi do provável desprezo que egípcios deveriam sentir por romanos, culturalmente dizendo.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 06/07/2019
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