Ela só tinha vinte e poucos
Os pés rijos
grudados no pedal
poderiam fazer girar um moinho.
Era tanto o peso da falta
que seus olhos se vidravam
sempre à frente.
Tão à frente
que não conseguia sentir a brisa fresca
da trilha de eucaliptos.
Não sentia os raios de sol atravessando as árvores e embaçando a visão.
Ela só queria chegar!
Da terra ao asfalto
carregava dois mundos no cano da velha bicicleta.
E fazia, sozinha, funcionar uma engrenagem maior que todos os seus medos.
Enquanto o suor fazia rastro em seu rosto,
os meninos achavam graça dos cabelos esvoaçando na descida.
Ela só queria chegar!
Os carros passavam por eles como um vulto difuso.
Eram esperanças que partiam feito raio.
Nunca paravam.
Deixavam só uma sombra daquilo que os três não eram.
E ela chegou!
Ela sempre chegou onde achou que eles deveriam estar.
Muitas vezes não conseguindo chegar ao seu próprio lugar no mundo.
Ela só tinha vinte e poucos
e os dois lhe deram mais vinte e tantos.
Eles trouxeram a ela algum impulso para pedalar.
Ela lhes deu um caminho daquilo que eles deveriam ser para sempre!