O SANTO DOS LADRÕES
O santo dos ladrões
pintado no quadro,
São Dimas,
tinha o rosto da minha mãe.
Por isso eu a perdoei
e ainda hoje ela estará comigo no Paraíso.
Jaz em minha memória,
o quadro do santo dos golpistas,
dos malandros, trapaceiros
(todos arrependidos),
tinha o rosto da minha mãe
(na crucificação eterna e esverdeada,
pendurada em um canto
de um altar da sala de estar)
por isso eu a perdoei,
e ainda hoje ela estará comigo,
no céu das mães,
dos filhinhos,
todos mortos,
enquanto eu permaneço vivo,
e homem marcado
pareço existir.
Aquele São Dimas que percebia os erros,
parecia contigo,
por isso perdoo a ti, mãe
mesmo com as minhas mãos fincadas,
minha crucificação fugaz,
meu anonimato.
Não foi tua culpa,
então se prepare,
pois meus braços irão abrir
para algo além do canto do altar
eles te receberão
e ainda hoje estará comigo no Paraíso
e até antes,
serás única
em nosso retorno
à claridade do meu parto.
Do livro: NOVA MECÂNICA