VERSINHOS PARA MEU PAI JOSÉ RODRIGUES

Sempre gostei de versinhos,

Mas não sabia o porquê,

Pensando sobre meu pai,

Eu vou contar prá você;

De toda a sua vida,

Eu sei somente um pouquinho,

Ela daria um bom livro,

Mas vou falar com carinho;

Vindo da bandas de cima,

Do mapa do meu país,

Desbravando esse sertão,

Meu pai caminhava feliz;

Neste caminho talvez,

Peripécias e armadilhas,

Sofrimentos e trabalhos,

E também outras famílias;

Do fruto destas famílias,

Pelo pouco que ouvi,

Alguns irmãos, muito amor,

Mas outros, não conheci;

Mas ao chegar na Bahia,

Minha mãe o desconsertou;

Ao ver tamanha beleza,

Seu coração disparou;

Cabelos pretos e lisos,

A beleza de uma flor,

Foi na cerca do quintal,

Que declarou seu amor;

Então foi quando ele quis,

Começar uma família,

Ela ia ser boa esposa,

Pois era uma boa filha;

Decidiram se casar,

Queriam a bênção dos pais,

A benção do padre veio,

Depois de uns dias a mais;

Pensaram em se mudar,

Partir prá outra cidade,

Prá São Paulo então vieram,

Passaram dificuldade;

Aqui, alguns tios ajudaram,

E outros amigos de bem,

De casa em casa moraram,

Até ter a sua também;

Deus lhes pague tios meus,

Bênçãos mil á todo amigo,

Que ajudaram a construção,

Do lar deles, um abrigo;

Minha mãe foi sempre firme,

Na economia do lar,

Até trabalhou escondido,

Para o meu pai ajudar;

Mas as lutas desta vida,

Não destróem a fantasia,

Cada filho que nascia,

Era uma grande alegria;

Meu pai saía feliz,

Por aí todo orgulhoso,

'Nasceu mais um filho meu',

Era um momento gostoso;

Trabalhou de sol a sol,

Tanto à noite quanto dia,

Com 40 graus de febre,

Não reclamava, só ia;

Lembro muito que meu pai,

Com música nordestina,

Contava algumas histórias,

Que eu ouvia quando menina;

Acho graça quando penso,

Percebo a obra-prima,

Meu pai, um bom cantador,

Minha mãe, boa de rima;

Entendi que a tal genética,

Pôs em meu interior,

Um pouquinho dela e dele,

O nosso progenitor;

No seu linguajar bem simples,

Malucas as suas piadas,

Quando contava às visitas,

Tirava boas risadas;

Dizia 'pré-réi-pró',

E uns versos seus de 'repente',

Histórias tristes do avô,

E sobre pegar no batente;

'Não digo: Viva o Brasil',

Criança, eu não entendia,

Se fosse nesse meu tempo,

Nem mesmo eu o diria;

Dizia: 'Não tenho estudo',

Nem diploma, nem leitura,

Mas era inteligente,

E tinha a sua cultura;

Contava muitas histórias,

Dos lados lá do nordeste,

Daí foi quando entendi,

Ele era um 'cabra da peste';

Um caso seu que me lembro,

O combate com Lampião,

Mas pouco contou do caso,

Não se lembrava mais não;

Mas fiquei sabendo agora,

O resumo do caso eu faço,

Subindo num pé de jaca,

Enganou o Rei do Cangaço;

Sinto muito sua falta,

Da sua simplicidade,

Tanto ajudou minha mãe,

Era um homem de verdade!

Ele era um homem de bem,

Errou? Jesus é quem sabe,

Não falo porque não sei,

Isso a mim não me cabe;

Se foi assim, pagou tudo,

De tanto que já sofreu,

Coração bom e valente,

Quem diz isso, não só eu;

Com trabalho, honestidade,

Muita fé, muita alegria,

Nos criou perfeitamente,

Com muita sabedoria;

Destemido e honrado,

Viveu com dignidade,

Eu li lá no dicionário,

Isto se chama hombridade;

Tinha nome de bom homem,

Se chamava Seu José,

Como o pai de Jesus Cristo,

Um pai de amor e de fé;

Toda vez que eu escuto,

No rádio o Rei do Baião,

Na hora eu me lembro dele,

E dói no meu coração;

Recordações tão queridas,

Lembranças de um grande ser,

Queria voltar o tempo,

Para tudo reviver;

Toda vez que penso nele,

Peço ao senhor Jesus,

Que cuide do meu paizinho,

Que esteja bem e na Luz!

Leila Melo Lima Yamasaki Cruz
Enviado por Leila Melo Lima Yamasaki Cruz em 11/01/2019
Reeditado em 11/01/2019
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