Nessa foto , mamãe, eu e vovó sentada, em seu banho de sol matinal
Relembranças
Vovó-Relembranças
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Na Páscoa, vovó contava
que seu pai, meu bisavô,
o "coronel" José Víctor da Câmara"
na janela a colocava,
filha única,bem mimada
ou melhor dizendo,
muito amada,
a distribuir bacalhau aos colonos
na Semana Santa:
costume nordestino,
presentear aos pobres
o peixe salgado
vindo da Europa,em pequenos barris...
Hoje,o bacalhau é farto apenas
nas mesas mais fartas,
já não faz o pobre feliz!
Lembro-me dessa minha
adorável avó Theófila Theonila
que tinha modos de santa...
Deu à luz dezenove filhos
dos quais a caçula, Terezinha
Do Menino Jesus
deu-me à luz bem mocinha...
Vovó era contrita na Páscoa,fazia jejum
pedia perdão não sei de quê,pois
jamais fez algo impensável
e morreu com quase cem anos de idade...
Coração farto de bondade,
piedosa, ensinou-me cada preciosidade!
"Nunca faça mal juízo do ausente",
dizia-me e aprendi a esperar
para melhor perdoar
quem estava atrasado
talvez a trair, talvez distraído
(coisas de seu marido,
Meu querido avô trovador
que era bem "levado")
e chegasse com desculpas
na ponta da língua
e então, ficava isento de culpas!
Certa feita,vovó ganhou um ovo pascal
muito grande,sem igual,
e resolveu escondê-lo
dentro do guarda-roupa
para nós, os netos,
que nas férias de julho
íamos a Pouso Alegre...
Contristada,ao abrir o papel
de estanho, amarrotado,
encontrou-o mofado...
Nós queríamos de qualquer
maneira comer aquele chocolate...
E para nos apaziguar, foi para a cozinha
fazer tapioca ,depois mamãe,
sempre alegrezinha,
brincou conosco de "passar anel"
enquanto vovó cantava
"Pobre Emília"...
Pobres de nós, ricos de tudo
que era ternura do Amor
mas frustrados
com o inesperado bolor...