ODES ÀS ASAS RECOLHIDAS

INÍCIO

Ela se foi. Deixou-me aqui,

Atirou-me malas, não era mais filho.

Indaguei de meus irmãos, bateu-me a porta.

Restou-me ir à que foi casa de vovó,

Fora-se oito anos antes, restara Titia

E essa foi minha mamãe.

Um colchão ao chão

No quarto mais frio.

Sem amigos, diversão,

Tanto faz se for sombrio.

Jantares nos quais cada

Porção de carne era engolida

Com ciência de quão apartada

Tornara-se minha vida...

FIM

Sentia-me claramente badulaque:

À exceção de Titia, ninguém comigo...

Alegria, apenas a de biquinhos de lacre

Nas revoadas piantes no abrigo.

Um dia, brinquedos (bichos enfileirados) -

Olhei-os com tédio e desgosto, vergonha,

Brincar agora é coisa do passado...

Só converse sobre isso com a fronha!

MEIO

Toda dor ensina, o mal

Dissipa-se no ar, ao por de Sol,

Quando recolhe-se cada pardal

E não sou mais mi, mas mi bemol.

Avança-se oitavas ou mais

E cada canteiro florido sorri

Pelo prazer de ter-me acolhido.

No jardim, o poste a luz de gás

Testemunha o quanto ali sofri,

Busquei em objetos os bons amigos.

Desde então dores e alegrias

Perfizeram-me quem agora sou.

Só em mim é que encontraria

Os pais, cada um que me deixou...

Dedico à titia Inaia.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 09/09/2018
Reeditado em 01/07/2019
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