VIDA
Muito pobre nasci,
Numa casa modesta.
E bem cedo aprendi,
Que nem tudo era festa.
A família que eu tinha,
Era grande demais.
Todo ano um vinha,
Menina ou rapaz.
A comida que tinha,
Era sim muito boa.
Junto ao leite a farinha,
Feijão, milho, broa.
O fogão de lenha,
Bem cedo ascendia,
Esta era a senha,
Que a comida cozia.
O pirão de feijão,
Minha mãe que fazia.
A bacia no chão,
Para nós repartia.
A roupa passava,
De um para o outro.
Embora surrada,
Dava-nos conforto.
A cama no chão,
Onde a gente dormia.
De palha o colchão,
Era só alegria.
Pra escola bem cedo,
Todos iam contentes.
Voltavam sem medo,
Cantando alegremente.
A água do pote,
Bem fria saia.
Aquele era um dote,
Para quem conseguia.
Da lagoa o peixe,
Era o pai que pescava.
A lenha em feixe,
Para a mãe eu buscava.
Das entranhas da terra,
O carvão arrancava.
Meu pai era fera,
Porque nos amava.
O pãozinho da mina,
Cada um esperava.
Comida tão fina,
Que o pai nos guardava.
Quando em casa chegava,
Depois do descanso.
A labuta não encerrava,
Cantava e orava conosco.
À tarde na roça,
Capinando o feijão.
Contente em troça,
Com a enxada na mão.
O café logo vinha,
Pão de milho, batata doce, aipim.
Era tudo o que tinha,
Trazido por mim.
As tarrafas faziam,
Ao redor de uma porta.
As mãos se mexiam,
Ao dar mais uma volta.
As agulhas introduziam,
Cada malha, em sua vez.
A tarrafa faziam,
Com muita rapidez.
O dinheiro servia,
Pra ajudar nas despesas.
É assim que vivia,
Uma família sem riqueza.