MINHA HISTÓRIA

Estive ausente, longe, quem sabe,

Perto dos Anjos, que me guardavam,

Protegiam, mesmo sem os ver,

Pois, sem ser criança, sabiam, um dia,

De um fruto do amor, eu iria aparecer.

Um casal ansioso muito me buscavam,

Procurando formas, alternativas outras,

Que não davam certo,

E isso frustrava toda sua ansiedade,

Pois eu, escondidinha,

Às vezes tão perto, quase os tocando,

Teimava em não aparecer.

Via a impaciência, desesperada até,

Em busca do meu ser

Pois seios fartos, generosos,

De quem queria ser mãe,

Queriam me amamentar,

E eu, sapeca, me afastava, não aparecia e via,

Que quem me buscava, muitas vezes chorava,

Minha ausência sentida, pois teimosinha, fugia,

Quando quase me achavam.

Até que um dia, fiquei prisioneira,

Num momento, no êxtase de um encantamento,

E fui concebida, pois muito desejada, sonhada,

Por longo tempo aguardada,

Desse ato de amor,

Finalmente fui encontrada.

Que conforto, nutrientes fartos encontrei na nova morada,

Crescendo, fazendo-me forte, tomando formas suaves,

Para tornar-me bonita no ventre materno,

Aconchegante, macio, de minha mamãezinha,

Embalado por canções que escutava quietinha,

Pois ela já sabia que eu era uma menininha.

Nove meses, já pronta, ensaiei os passos,

Para sair de meu casulo,

Como uma borboleta que anseia pela liberdade,

E batendo asas de lindas cores,

Mostra vaidosa toda sua formosura.

Só que fiz-me rebelde, pois ensangüentada,

Presa pelo cordão umbilical,

Levei ainda umas palmadinhas e eu,

Sem entender a razão, tive que chorar,

Num grito forte e gozado, todos em volta,

Choravam de alegria.

Já borboleta, bonita, exibindo minha graça,

Toda formosura e cheirosa, abri meus olhinhos,

E um pouco assustadinha, conheci então,

Papai Ronaldo e mamãe Albinha,

E o meu, já escolhido,

VITÓRIA,

Pela longa busca, sofrida,

Quase sem esperança, até que vim.

E um segredo lhes revelei então,

Porque, apressadinhos, longo buscaram,

Minha irmãzinha EDUARDA.

Jairo Valio – Dez. 2000