A ÚLTIMA TIA

Hoje tanto faz

Constatar que não há irmão, irmã de pai meu que não seja burro, incapacitado

Mas quando descobri, foi um choque

Todos os antigos amigos descartados

Aqueles que brincam contigo,

porque és criança, fofa, reluzente, a todos agrada

Vão minguando com o passar dos anos

Uma ou duas respostas truculentas e adolescentes

bastam para que virem-te as costas

permanentemente

Então sobram uma, duas ou três

entidades

Uma que se isolou, não que se importe

Outra que se endividou, depois reapareceu

pedindo dinheiro, não tem interesse

no teu âmago verdadeiro

Mas ficava a (falsa?) lembrança de uma tia

que te reconhecia

que sabia que tu eras uma criança

especial, ainda na fase adulta

Quando finalmente tua tia risonha e afável

abre a boca para falar de terceiros

sem demagogia

do teu país, do que é o brasileiro

com sinceridade,

Vês que passaste deslumbrado e tolo esta segunda idade

Melhor é envelhecer e esquecer que já tiveste parentes

pois os mais promissores são maior flagrante

que bocas se deleitando na sarjeta

Não são nada, são um aborto,

um não-potencial

Escória nascida de avós com quem nunca

simpatizaste

E eis que

revelam sua real e cruda natureza

a de animais auto-empaláveis

sempre se crucificando com novas cruzes

que eles mesmos carpem

AH, Carpe diem! Em Cristo

Pelo pai, pelo tio, pela tia

Mas nem em Espírito!

Afasta de mim esse FALE!

Na festa dos embriagados corneteiros

Tu és o calado, único sábio,

Enquanto os palhaços do século dos sofistas são endeusados

teu posto é relegado

Até nunca!

Tu és órfão em segundo grau,

Não és semente desta jeira,

ultrapassaste todo o adubo

Bastardo, diante de teu sangue

Milagre inexplicável

Único

Só te lembra:

tu também os decepcionaste,

ah, oh! uh! urticária, só de imaginar...

– que trastes!

Avante!,

há famílias nascidas dos encontros casuais

com força maior que a de galhos apodrecidos

equiparável ao diamante