Carta ao meu filho
Num daqueles dias em que nos falta inspiração
Mas como a vontade é a Deusa da satisfação
Vou deixar a minha transbordar neste papel
Como dedo enchendo o diâmetro do anel
Filho, que as ausências de teu pai
Não sejam o mantimento da desilusão
Eu trilho estradas sem asfalto para estar aí
As noites que passo fora, nem durmo passo em clarão
Carrego o céu em minhas costas
Para que não caia sobre o chão que pisas
Perdoa me filho pelas minhas fraquezas
Em não lhe dar todas as respostas
Meu pior pesadelo é que esta carta
Nunca advenha em tuas mãos,
Mas se conseguires ler é que bateu a sua porta
Já serás grandioso o suficiente para saber
Que nunca te culpei pelos meus desaires,
Só quis ressarcir os ensejos que não pude estar
Enquanto nos perdíamos em andares
Que reimprimiam nostalgia.