MAMÃE
Onde estavas quando, no escuro, procurei teu rosto?
Onde estavas quando, sentada na pedra, chorei de tristeza?
Onde estavam tuas mãos macias
Para acariciarem minha cabeça?
Em que encruzilhada deixei-me ficar sem ti,
Ou me deixaste, tão sozinha?
Não sabias que partindo
Eu perderia o rumo?
Mãe, há muito tempo perdi o teu carinho.
Deste a quem os afagos que eram meus?
A quem ralhaste em tarde de travessuras que não fiz?
Já não ouço tua risada escandalosa.
Teu perfume D’Oriente, a quem perfuma agora?
Não deu tempo de nada.
Não, esse tempo nem aconteceu!
Eu era tão menina! Tudo passou tão depressa!
As chances todas sumiram
na vida que não tivemos juntas...
Não deu tempo de te dar trabalho.
Quando, mocinha, buscava amores,
Onde estavas para me dizer: não creia neles?
Não houve o tempo de pedir socorro
Pelas loucuras que fui fazendo.
Nem de amparar-me no tempo das angústias.
Não é que não deu tempo...
...esse tempo...nunca aconteceu...
Se podes me perdoar pelos meus desencantos,
Se podes esquecer os meus lamentos,
Se podes relevar a minha hipócrita indiferença,
Não sei. Adeus, mãe, adeus.
Vou vivendo as conseqüências do que fiz.
Não sei até que ponto a tua ausência me ajudou errar!
Não sei se ela me impediu de ser feliz!
...não sei...esse tempo nunca aconteceu...
O tempo é irreversível para nós duas.
Agora é só nunca mais e uma absurda saudade!