Almas e mãos...
Despercebidas mãos, mas agora, com um pouco mais de atenção, lhe vêm à lembrança alguns poucos acenos que ficaram em seu coração.
Lá se vai bom tempo, décadas por certo.
Pelo vão de uma janela de trem de uma certa estação, a única que ele se lembra com bicas d'agua disfarçadas em cara de leão, quando viu, com seus olhos agora cansados, um quadro, uma obra prima de rara ocasião.
A jovem mãe, elevando firme pela cintura um toquinho de gente que abria e fechava suas mãozinhas, resvalando-as entre os dedos do pai, três pares de mãos e choro em profusão.
A roupinha alinhada está agora toda desarrumada, os sapatinhos caídos pelo chão.
Mas o trem está lento, quase parando, devagarzinho, em meio a enorme confusão, tanta gente na pequena estação.
Ali já sabiam, partidas de pessoas que se amam são carregadas de dúvidas, medos e incertezas, as chegadas confortam, aliviam e tiram os nós presos ao peito, que desatam em abençoadas lágrimas que desarmam todas as ansiedades e saudades.
O trem parou, o pai chegou, a família está unida, a vida retoma o sentido, segue, ele agora corre ao encontro da esposa querida e do filhinho que ri gostoso e bate palminhas.
Três pares de mãos, três almas que nunca estiveram ou estarão ausentes...