A PONTE

O menino, em cima da ponte, olha o rio

e quer saber:

“O que é um rio?”

Para o menino o rio não é água.

Água é copo.

Não há pontes entre o copo e o rio.

O pai não responde

O menino segura a mão do pai

e não pergunta mais nada.

A mão é o pai .

Ele está por ali.

Quando a criança o esquece,

aquela mão se aperta.

Mas o menino sabe,

a avó de rosto enrugado,

deitada sobre a cama,

é quase igual à fotografia do avô.

O menino nunca o viu,

mas o avô sorri.

A ponte balança.

Ponte não é madeira.

Madeira está na cadeira

de palha transada,

na estante da fotografia,

onde o avô ainda vive.

E sorri, sorri e sorri.

Só a cabeça sorri.

Do livro: " Criança, substantivo sobrecomum"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 09/03/2016
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