A PONTE
O menino, em cima da ponte, olha o rio
e quer saber:
“O que é um rio?”
Para o menino o rio não é água.
Água é copo.
Não há pontes entre o copo e o rio.
O pai não responde
O menino segura a mão do pai
e não pergunta mais nada.
A mão é o pai .
Ele está por ali.
Quando a criança o esquece,
aquela mão se aperta.
Mas o menino sabe,
a avó de rosto enrugado,
deitada sobre a cama,
é quase igual à fotografia do avô.
O menino nunca o viu,
mas o avô sorri.
A ponte balança.
Ponte não é madeira.
Madeira está na cadeira
de palha transada,
na estante da fotografia,
onde o avô ainda vive.
E sorri, sorri e sorri.
Só a cabeça sorri.
Do livro: " Criança, substantivo sobrecomum"