SAUDOSIDADES

Saudade dos tempos bons de antigamente,

Da época que toda a família se reunia

E com muita alegria festejávamos o tempo todo.

Afinal era a única oportunidade de cada ano.

Eita! Como era bom estar com todos os primos.

Bem, na época éramos apenas em quatro:

O Joãozinho, eu, o Rinaldo e a Jaqueline.

Putz! Era sensacional o prazer que sentíamos.

Saudade das brincadeiras e das risadas fartas.

Saudades de pular na cama dos meus avós

E dos muitos presentes que a gente ganhava.

Saudades da decoração simples e da farta comida.

E de brincar na sacada da casa da minha avó,

E de descer a escada escorregando...

Saudade da comida da minha vó Dita (Ciborgue).

Do café com leite que ela fazia e da meia bengala com manteiga.

Saudades do “dolon dolon” e da alegria dos meus avós.

Do “Serra, serra, serrador, serra o papo do vovô”.

Lembro-me do tio Beco quando colocava a gente

Em cima do guarda roupa, era bem alto

Tudo era motivo para a gente se divertir muito,

Nem tudo, lembro-me de uma festa de aniversário,

Na casa da tia Janete, aniversário da Jaque.

Trinta de dezembro. Não me lembro bem do ano exato.

Sei que dancei muito com todas as meninas.

Mas havia uma menina que era especial, a Rosana.

Minha primeira namoradinha, coisa de infância.

Mas já sabia que tinha despertado ciúmes.

Meu pai estava abraçado com minha mãe

Olhando para mim e me vendo dançar com as meninas

Daí a certa altura ele me perguntou dessa forma:

Dançando coladinho assim, esquenta em cima ou embaixo?

Toda nossa atenção era voltada apenas para comemorar,

Festejar os dias que esperávamos o ano inteiro.

Boas lembranças do meu saudoso avô Victor Maruzzo,

Com seu jeito turrão, mas sempre agradável.

Jogar tômbola, só depois da virada do natal ou ano novo.

Meu avô ficava com a cartela cheia e cantava o jogo

E cada número que ele cantava tinha um significado próprio

Apostávamos grãos de feijão e fazíamos duplas.

Era uma gritaria só quando alguém ganhava

Na “cinquina” ou na tômbola; tinha que conferir.

A tia Leonor era sempre uma das mais escandalosas.

Quando eu fazia parceria com a tia Marta, ganhávamos todas.

O tio Arlindo ainda namorava a tia Leonor

E quando queria ficar sozinho com ela

Dava dinheiro pra gente comprar doce na padaria.

Eles pensavam que a gente não sabia das coisas.

A tia Marta sempre prometia todo o ano:

Se passar de ano na escola vai ganhar presente.

Certo ano eu ganhei um gravador Aiko.

Saí gravando tudo e a gente ria ouvindo as gravações.

Nas viradas de natal e ano novo soltavam fogos

E todos os vizinhos saiam pra rua para se saudarem.

E depois saímos na casa de todos eles

Pra comer e beber champagne escondidos.

Teve um fim de ano que fizemos amigo secreto

Meu tio Antônio pediu um tanque de gasolina de presente

E sempre dava de presente pro seu amigo guarda-chuva

Ganhei da tia Leonor chinelo Samoa, comprado de última hora mesmo.

Voltar para o Rio de Janeiro era o momento mais difícil.

Eu mesmo não queria, era muito melhor estar com todos.

Porque sabia que ia demorar muito pra rever a família

E pra voltar sentir aquelas sensações únicas.

Daquele tempo muito já se consumiu

E muito deixou de valor a pena.

Não é possível mais resgatar aqueles tempos,

Afinal nos tornamos adultos e não dá mais pra voltar.

Os anos passaram e todos cresceram.

Vieram outros primos, a quinta foi a Fabiana.

Hoje somos ao todo treze, a maioria tem filhos.

Mas em algum momento nos perdemos.

O tempo nos levou algumas pessoas maravilhosas:

Meu avô Victor, meu pai Oscival e a nona Ema,

Meu tio Arlindo também se foi, tia Janete saudades,

E mais recentemente a minha avó, o tempo vai.

Os dias atuais jamais poderão ser comparados

Àqueles dias festivos, alegres e maravilhosos,

E poder ser abraçado por todos de forma sincera

Era muito bom estarmos próximos, sem preocupações sérias.

09.12.2015

Gui Medeiros
Enviado por Gui Medeiros em 13/12/2015
Código do texto: T5479130
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