A rosa do meu avô.

Meu avô era um cabra

Valente feito o cão

Deve ser por isso que vez por outra

Dizia que fez parte do bando de Lampião

Até hoje não sei se foi verdade

Ou apenas fruto da imaginação.

Mas ninguém era doido

De querer questionar

As histórias que contava

Para gerações ultrapassar

Ali tinha relato

Para dez anos contar.

Não era um homem culto

Nem muito menos estudado

Mas o que sabia da vida

Não se aprende com doutorado

Na sua forma bruta de ser

Deixou a família um legado.

Lia pouco, lia ruim

Mas soube os filhos educar

Pode num ter formado doutor

Mas os ensinou a rezar

Quando os filhos fizeram travessura

Com o coro tiveram que pagar.

Mas cada lápada valeu a pena

Os ensinou a prestar

Aonde foram levaram Honestidade

Como forma de honrar

Aqueles cabelos brancos

Que o tempo fez questão de pintar.

Foi um homem que fez fortuna

Teve sítio , também mercado

Nos tempo de cheia era fartura

Nos tempo de seca rezava pro gado

Quando chegava na sua casa

De longe via os cocão de feijão impendurado.

Mas era homem agarrado

Num gastava dinheiro assim

Lembro- me do dia que pedi dinheiro

Pra comprar um dindim

Ele me deu poucas moedas

E ainda pediu o troco pra mim.

Tem um dia que não posso esquecer

Foi o dia que duas rosa veio me dar

Fiquei tão feliz na hora

Que correndo fui brincar

Mas minha tia disse que era de cemitério

Por isso ia ter que jogar.

Mesmo sem querer

Tive que rebolar

Olhei para ele e vi

Uma tristeza no olhar

Não importa de onde veio a rosa

O importante foi querer me dar .

Posso receber rosa

De qualquer outro alguém

Mesmo que de um cabra bonito

Não terá o valor que aquela tem

Porque recebi do meu avô

Que nunca deu rosa a ninguém.

Meu avô não se aquietou

Nem com seus 89 de idade

Pois vê uma mulher de “bermuda”curta

Não tinha maior felicidade

Nas redondeza era conhecido

Como terror da cidade.

Andou de cavalo até enquanto pode

Viu grandes secas no sertão

Viu os bichos morrem de cede

E o desperdício da plantação

Amou tanto aquelas terras

Que hoje se juntou ao chão.

Esse sim foi um dia triste

Que gostaria de esquecer

O dia que vi a muralha

Do meu avô se romper

Foi questão de 3 dias

Para o velho falecer.

Sobre o mal irremediável

Não há forças para enfrentar

Até o mais duro dos homens

A desgramada vem derrubar

E foi assim que meu avô

Tornou-se um mito pra lembrar.