Epitáfio
Epitáfio
Ao meu irmão:
Não quis em momento algum
Chamar-te irracional
Meu querido irmão
Deixo aqui um apelo monumental
Minhas mais sinceras desculpas
Não a ti, lógico
Mas sim aos irracionais
Por denegrir tão violentamente
A casta destes nobres animais
À minha irmã:
Sortuda em demasia
És tu, querida irmã
Que nunca cometeu
Pecado na vida algum
Nunca saiu com garotos
Ou cabulou aulas
Sobre os barrocos
Cigarro ou bebida
Jamais provaste
Ah! Recordo-me
Agora tarde
És tão pura
E duradoura
Porque do reino
Da nefasta terra
Ainda não és
Fiel moradora
À minha Mãe:
Primeiro de tudo
Talvez por descuido
Talvez por amor
Pegaste barriga
Deste pobre sonhador
És tão formosa
És tão graciosa
Como uma gazela
Que se afoga
Numa lagoa
De bosta.
Ao meu primo:
Salve, meu querido primo
Que da Grécia Antiga
Intrépido explorador seria
Trilhou seu caminho
Por entre troianos
E um grande mesquinho tirano
Nos teus sonhos, meu velho
Lutas contra os vencíveis
Aquelau e Hércules
Admeto e Alcertes
Antígona e Penélope
Na tua dura realidade
Lutes contra tua barriga
E tua falsa certeza
De que não há nada após a vida.
À minha prima:
Formosa e matutina
Hormônios à flor da pele
E o diabo embaixo da derme.
A mim:
Talvez um poeta talvez um demente
Que fala mal da sua própria gente
Espero que após ter a todos partido
Possam perdoar este gomil perdido